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 A educação pietista: Características gerais

O PIETISMO E A EDUCAÇÃO

A educação pietista foi o primeiro movimento pedagógico que aplicou à prática escolar os princípios do realismo, embora dando maior relevo ao aspecto religioso do que ao aspecto científico. O pietismo foi uma seita ou, mais precisamente, uma corrente religiosa que se produziu no seio do luteranismo alemão, a partir do século XVII, e cujos principais representantes exerceram uma influência considerável sobre a educação da Alemanha, com repercussões em toda a Europa. 

O pietismo constituiu uma reação contra o formalismo frio e seco da tradição luterana. Para fortalecer a crença e e estimular o espírito religioso, os pietistas apelavam para os impulsos do coração, para a fé viva e ativa e para a prática do cristianismo que, para eles, possuíam maior valor do que o conhecimento dos dogmas. “Um grão de verdadeira fé, diziam, vale mais do que um quintal de conhecimentos históricos e uma gota de caridade é superior a um oceano de ciências”. Apesar do seu colorido sentimental e do seu desprezo pelas ciências e pelas artes, o movimento pietista revestiu-se de um caráter essencialmente racionaliza, resultante da influência não só do individualismo reformista, como do naturalismo realista. Mas no, seu pessimismo antropológico que o levou a considerar a criança como um ser substancialmente corrompido pelo pecado, original, sente-se, nítida, a influência das ideias jansenistas sobre a natureza humana.

O fundador do pietismo foi Philip Jacob Spener, contemporâneo de Locke, que nasceu em Rappoltsweiler na Alsácia, tornando-se famoso pelas suas pregações. Partidário do método catequético, Spener aplicou-o com grande eloquência e habilidade, exercendo influência profunda sobre a educação de rua época. A maior figura e o autêntico líder da educação) pietista foi, entretanto, Augusto Hermann Francke cuja extraordinária atividade pedagógica encheu as três primeiras décadas do século XVIII.

Augusto Hermann Francke (1003-1727)

Nasceu em Lubeck, foi professor de grego e de línguas orientais na Universidade de Halle e dirigiu, com grande zelo e ardente piedade, a comunidade protestante de Glaucha. Em Halle, fundou uma série de estabelecimentos de ensino que se tornaram conhecidos pelo nome de fundações de Francke: 

a) Escola dos pobres, destinada às crianças sem recursos; 

b) Escola burguesa, espécie de escola primária superior para onde as famílias abastadas enviavam seus filhos mediante o pagamento de uma mensalidade; 

c) Orfanato, onde as crianças órfãs eram instruídas e educadas gratuitamente; 

d) Seminário ou escola normal, destinado à formação de professores e com cursos teóricos e práticos que duravam três anos; 

e) Pedagogium, espécie de liceu clássico e real, onde os alunos recebiam uma preparação de modelo para as escolas reais, então em voga na Alemanha. Nessas diversas instituições escolares, o programa das classes elementares compreendia a religião, a leitura, a escrita, a gramática, o cálculo, os elementos de geografia, a astronomia, as ciências físicas e naturais, a lógica e a retórica. As línguas antigas mereciam um carinho especial afim de que os alunos pudessem ler a Bíblia no original.

A prosperidade das escolas de Francke ultrapassou as de quaisquer outras da sua época. Por ocasião de sua morte, elas contavam mais de dois mil alunos. Sua dedicação à causa do ensino e seu amor à juventude tiveram numerosos imitadores, entre os quais se destacou o conde de Zinzedorf que foi o fundador dos Irmãos Morávios. O objetivo educacional de Francke foi, antes de tudo, realizar uma síntese da formação religiosa e da preparação prática para a vida, através dos estudos realistas. 

O grande mérito da pedagogia do líder do pietismo foi colocar o, conhecimento vivo de Deus e a prática do cristianismo como o fim e o meio, por excelência, da educação. Embora considerasse a natureza humana, irremediavelmente, maculada pelo pecado original, não aconselhou, como os jansenistas, meios pedagógicos compressivos e sombrios.

Procurou, ao contrário, utilizar processos educativas alegres e atraentes no propósito de criar em torno da criança um ambiente de vida, de graça e de beleza. Daí a influência manifesta que a sua obra exerceu sobre os educadores do seu tempo. “Ele mostrou a todos, comenta Kellner, o poder do amor e da fé. Mostrou ainda o, quanto era sublime viver o cristianismo em toda a sua pureza e plenitude, razão pela qual Jesus Cristo devia ser o começo, o meio e o fim dos estudos reais e humanitários, assim como da escola popular”. Os discípulos de Francke deram relevo especial às ideias realistas, aplicando-as à prática escolar. 

Entre eles se destacaram Hecker e Simler que fundaram escolas reais as quais, pela sua organização especializada e técnica, podem ser consideradas como precursoras das modernas escolas industriais.

Resumo e compilação: Equipe Mais Educação

Bibliografia de apoio

G. Compairê, Historia da Pedagogia. Paris 1997

E. H. Wilds, A fundação da Educação Moderna. Nova Iorque, 1982