Quantos professores já choraram a morte de um aluno?

A morte de um aluno em uma escola ocupada foi notícia esta semana. Uma preocupação temporária aflorou na sociedade.

Sou professor a algum tempo, bem pouco na verdade. Comecei minha carreira de docente lecionando em um Centro de Socioeducação em cursos profissionalizantes. Foi um desafio e tanto. Vários dos meus ex-alunos tinham envolvimento com drogas e segundo dados do Departamento Socioeducativo o tráfico de drogas corresponde a mais de 50% dos motivos que levam um adolescente para internação privado de liberdade. Essa margem na verdade, chega a quase 70%.

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Quantos professores já choraram ao
perder um aluno para o mundo das
drogas ou do crime?
Quando vejo notícias como a desta semana, em que um adolescente foi morto por um colega de escola, não me aparenta novidade. A violência já está tão banalizada que ouvir notícias deste tipo se tornou comum. 
Quando deixei de lecionar no sistema socioeducativo encontrei um tempo depois algumas anotações com nomes de ex-alunos. Por curiosidade lancei o nome de alguns no Google e nas Redes Sociais para ver como estavam, qual caminho tinham seguido após o período de internação. A curiosidade me custou caro. Em uma triste semana descobri que um ex-aluno tinha sido preso por roubo e logo mais adiante encontrei a notícia que um tinha sido assassinado em uma cidade da Região Metropolitana de Curitiba

Foi um baque. O primeiro questionamento foi: O que eu poderia ter feito para ter ajudado aquele menino? Será que fui um bom professor? Não me faltaram lamentos. Em menos de dois anos na carreira docente ter uma notícia desta me fez pensar em desistir, quem sabe voltar para o que fazia antes. Encontrei forças e hoje estou continuando.

Quando vejo notícias como a do menino que morreu na ocupação me pego pensando sem lados políticos. Quando a maioria procura culpados e usa politicamente uma tragédia para promoção política temos de repensar que rumo queremos para nossos adolescentes. 
O tráfico de drogas na porta das escolas não é recente, é antigo. Até dentro delas. São poucas as vozes que vi denunciar este tipo de crime durante os anos. A maioria é omisso e passivo. 

Quantos alunos se foram sem dizer "adeus"
Quantos professores não tem visto seus alunos se perderem na vida, morrerem por motivos banais? Quantos se sentem incapazes diante de uma jovialidade se perdendo para drogas diversas? Quantos realmente se importarão com os adolescentes quando passar o "calor das ocupações". Temo que a morte deste jovem sirva somente para acirrar guerras entre movimentos de ideologias diferentes sem se preocupar com a causa maior que levou ao fato.

Estamos diante da oportunidade de ascender um debate não somente sobre a qualidade do ensino mas sim de como a educação (ensino + aprendizagem) tem sido ineficiente no ponto da conscientização sobre o uso indiscriminado de drogas. Vejo pais e professores se posicionando sobre o assunto nas redes sociais. Estranho que são esses mesmos pais que fornecem dinheiro para seus filhos comprarem cigarro e sabe mais o que. São esses mesmos professores ( e diga-se diretores) que ignoram alunos fumando no ambiente escolar (mesmo sendo proibido), que não chamam a autoridade policial para fazer revistas periódicas em sala de aula para "não constranger os alunos".

Existem culpados da morte do adolescente na ocupação em Curitiba? Sim existem. Todos nós somos culpados. O governo é culpado mas é nossa escolha. O conselho tutelar é nossa escolha. Todos carregamos um pouco da culpa cada vez que um adolescente morre por nossa falha em construir uma educação de qualidade.


Colaboração:   Cassemiro Luis
- Professor de Filosofia, História, Construção Civil - 

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